Bate (na minha cara) e volta!

À esta altura, já está bem claro que eu amo essa minha vida de Cabin Screw. Mas, näo nego: as viagens bate-volta näo säo as minhas preferidas. Costumam ser bem cansativas e, no final, näo däo muito dinheiro.
Fazemos bate-volta (que chamamos de Turnaround ou Round trip) pra cidades no Oriente Médio, algumas na África, Europa e Ásia.

Vamos lá, vamos desenhar:
um Double Sector Dubai x Bahrain x Dubai x Doha x Dubai (tá, to dando o pior exemplo possível, porque esse é o único double sector onde voltamos pra casa no mesmo dia). As duas cidades säo aqui do lado; praticamente um pulo pro outro lado do Golfo Pérsico. Mas, a agenda do dia é bem sofridinha.

> O voo saiu às 8:30 da manhä. Pra todo voo, temos que chegar no QG da empresa duas horas antes do horário de partida, ou seja: meu dia comecou às 5.
> Primeiro trecho da viagem foi pra Bahrain, uma horinha até lá, 1:30 de transito no aeroporto (tempo pra desembarque dos passageiros, limpeza do aviäo e embarque dos próximos passageiros), mais uma hora até Dubs.
> Chegamos em Dubai às 13. Ainda estava ótima. Saímos do aviäo e entramos no onibus (que costuma nos levar de volta ao QG depois dos voos) mas, o raio do motorista me levou de volta à realidade (leia-se: do céu ao inferno): parou ao lado de outro aviäo. QUE MERDA!! Lá se foi minha energia. Round two: Fight!

Aí voce fala: ah, que drama, só mais uma hora e meia de voo e ela está de volta. Aí eu te xingo, respiro fundo e te explico: o que mata nos bate-voltas säo os chamados Pre-departures.
Embarque num Boeing 777-300 lotado demora séculos; voce fica no meio da cabine ajudando os sem-nocäo a achar lugar pra eles (que andam até a fileira 50, quando o assento deles é o 19 e in-sis-tem em voltar enquanto o corredor está cheio, empurrando todo mundo) e pras malas (näo esquecam que o Duty Free de Dubs é gi-gan-te e tem gente que perde a linha). Aí tem nego pedindo água, querendo mudar de lugar, fazendo pergunta descabida. Aí, depois da guerra pra sentar todo mundo e pra achar espaco pras tralhas, ainda distribuímos toalhas quentes, menus (uhum, na Economica! Emirates é um loosho! Mas näo tem menu nesse voo, afinal, somos tudo de bom, mas ainda näo fazemos milagre. Imagina esperar neguinho por neguinho decidir o que quer comer!), brinquedos, kits para bebes e preparamos a cabine pra decolagem.
Meu, fazer isso QUATRO vezes no dia näo é brinquedo, näo! Enfim, voltemos à rotina:

> Partimos pra Doha às 15. O voo é ainda mais curto, säo 45 min. E näo, aqui näo é a GOL (com todo respeito, juro!) e a vida é dura pro comissário: näo tem essa de servir um copo de Coca e amendoim (ou, como no meu último Rio x Säo Paulo com a TAM, só a Coca mesmo!!), tem servico com BANDEJA: salada, prato frio e sobremesa. Excelente pro passageiro, mas nós aqui do outro lado queremos mor-rer!
Veja só: säo 10 minutos 'subindo', 20 minutos pra servir 300 passageiros (leia-se entregar a refeicäo, deixar os caras comerem e limpar a zona toda), 5 minutos pra preparar a cabine pro pouso e 10 minutos 'descendo'.
Puta falta de sacanagem!

>CLARO que, pra ajudar, ainda rolou um atraso em Doha e pousamos em Dubs-City às 18:30. Em casa eu cheguei às 20 (porque, depois de pousar, säo mais 10 anos até abrirem as portas e liberarem o zoológico pro próximo voo, precisamos recolher fones de ouvido e cobertores, voltar pro QG, imigrar, blablabla).

Eu recebo por hora voada. Agora, faz as contas:
saí de casa às 6 da manhä, cheguei às 20 = 14 horas na rua.
Voei: 1 hora para + 1 hora de Bahrain/ 45 min para + 45 min de Doha = 3 horas e meia voando.

Me fala, me faaaala, Braseel! Cade o luxo???  Cade o poder?? A seducäo??
Quero a minha mäaaaaae!